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DENTRO DA PRISÃO - terceira era

  Aqui n?o é uma pris?o. Como pode ser, se é aqui que me sinto livre?

  N?o conseguia se lembrar, por mais que se esfor?asse. Parece que sempre estivera ali, dentro daquela pris?o, flutuando sobre aquele mundo sem vida, de propor??es inimagináveis, diferente de um que, por mais que se esfor?asse, n?o se lembrava. às vezes parecia que ia conseguir ter uma frágil lembran?a, mas, ent?o, tudo se desfazia novamente, e novamente se via frente à frente com uma saudade estranha de algo esquecido.

  - Quem sou eu? – perguntou para as montanhas vermelhas e denteadas que via por dentre as barras opacas e frias de sua pris?o. – Qual minha fun??o? Para que existo? O que eu pensava antes de me lembrar de que existo? Afinal, eu existo? O que eu era antes de existir?

  - O louco está gemendo – ouviu ao lado.

  - Ele cada vez fica mais demente. Olha, olha, ele está se esfuma?ando – apontou um dem?nio deliciado, se aproximando cada vez mais para sorver aquela energia escura.

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  Logo n?o eram apenas os dois, mas uma multid?o que envolvia a pris?o que flutuava no vazio, esfomeados pela energia prometida. N?o demorou e n?o se via mais qualquer grade, mas apenas mantas e sombras e formas humanas aladas que se locupletavam na energia que Mercator destilava.

  Ent?o Mercator ouviu alguém gritar que era para se afastarem depressa, e viu que seu tempo acabara.

  Com uma velocidade terrível avan?ou como uma sombra, circulando rápido por dentro de sua pris?o, rasgando e cortando e puxando para dentro tudo em que tocasse.

  Quando os que conseguiram se afastar abriram espa?o para a luz opaca e morti?a daquele entrar na pris?o, viram centenas de sombras, mantas e dem?nios alados junto de Mercator, que os observava como se sonhasse.

  Cientes do perigo que corriam, como uma massa se olharam e caíram sobre Mercator.

  A turba do exterior gritava de euforia, hipnotizada pela luta terrível que se desenrolava dentro da cela.

  Quando o último dem?nio capturado sucumbiu nas garras de Mercator, que caminhava sobre uma grossa camada de sangue negro como óleo queimado, os gritos se elevaram em transe, tomado de um furor festivo, invejosos de Mercator que se alimentava de toda aquela energia.

  Ent?o subitamente, após o último dem?nio se desfazer nas garras de Mercator, os que estavam fora se viraram e, como se nada tivesse acontecido, alheios a tudo passaram a flutuar como sempre faziam, buscando incessantemente os alimentos escassos, enquanto um procurava escapar dos olhos vidrados de fome do outro.

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