Pode parecer estranho para a maioria, mas eu vi que n?o há templos na fúria do vento.
- Quem sou? – Mercator perguntou para si mesmo pela décima vez, os olhos perdidos no céu.
Em seu peito apenas confus?o e uma desesperan?a, às quais desesperadamente n?o dava qualquer confian?a, sob pena de perder o pouco de sanidade que escondera para si.
Um falc?o vinha de longe, voando em sua dire??o.
Com um movimento súbito o colheu do ar e ficou examinando-o. Ele estava paralisado, preso num medo e num terror que o agradaram, e que ele sorveu como uma iguaria.
Mas, havia algo a mais.
Trouxe-o para mais perto de seus olhos estreitos. Havia uma luz em toda sua volta, mais próxima de seu frágil corpo do que no momento em que estava voando e se acreditando livre. Ainda assim, era uma luz. Aproximou sua garra e a tocou, e a viu tremeluzir enquanto se desfazia no ar junto com o pio doloroso do pássaro. E havia o pássaro, e n?o havia mais luz nem mais o pássaro, logo após. Ent?o lan?ou o corpo inerte para longe e voltou novamente os olhos para o céu e para as montanhas geladas ao longe e se aquietou, replicando o momento em que vira a luz no falc?o.
Lentamente, para sua estranheza, luzes foram surgindo, algumas mais intensas que outras. As árvores e matos abaixo das linhas das neves passaram a brilhar, envoltos em auras, tal como os animais no céu e os animais nas terras ao longe, e montanhas que se estendiam para as distancias. Levou sua aten??o para um rio ao longe, e viu que suas águas brilhavam iridescentes, tal como seres que nele viajavam para cá e para lá, bem como algumas pedras nas longínquas montanhas: cristais, identificou.
Com cuidado, tomado de certo e estranho temor, foi baixando os olhos com extrema lentid?o em dire??o à sua garra que tocara a luz do pássaro.
Sorriu, ao ver que nada havia ali, nenhuma luz, nada.
- Nenhuma maldita luz. Estou livre dela...
Como se saboreasse a confirma??o de sua essência seguiu suas linhas de sombras, algumas t?o densas quanto o negror de uma caverna profunda, e outras um pouco menos densas, tomadas de tons de um cinza turvo.
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- Trevas e Escurid?o o chamam – ouviu à sua esquerda.
Mercator manteve-se quieto, sentindo suas entranhas se apertarem.
Talvez, se ficasse quieto eles acabariam indo embora, pensou com esperan?a, voltando seus pensamentos novamente para o que descobria.
Ent?o um calor sutil no ch?o à esquerda. Voltou-se para o ch?o e viu uma tímida flor azul, pequena e solitária. E veio uma pequena borboleta amarela que nela pousou. Seus olhos se estreitaram, e viu novamente as luzes em ambos, e na terra abaixo. Devagar deixou que uma inten??o crescesse dentro de sua vontade, pronto a dar um bote e tomar para si...
- Você n?o ouviu? Trevas e Escurid?o ordenam que se apresente perante eles.
Toda sua inten??o se fechou, tornando-se densa dentro de si como um bloco frio, aguardando o momento.
- V?o... Meu tempo de ouvir se foi.
- Acho que você n?o entendeu. Eles ordenam sua presen?a. Se há algo que deseja que transmitamos a eles, que nos diga, e iremos. As consequências ser?o suas...
- N?o converso com aqueles que estou para destruir.
Lentamente se virou, e ficou enojado.
Havia luz ali, pequena, quase apagada, mas ela cintilava tímida e difícil de observar. Na verdade, apenas podia senti-las, sem poder precisar onde estavam naquelas formas de sombra. E havia medo ali, saboreou, um medo que transpiravam como um perfume nauseabundo e delicioso.
> Vocês brilham. Vocês têm essas nojentas luzes, porque elas s?o sujas demais. Vejo vocês, e vocês n?o merecem a escurid?o de que se acreditam, nem as luzes que brilham com tanto medo.
Com uma rapidez absurda atacou.
Apesar dos dois sombras e os três mantas estarem de prontid?o, os três mantas foram atingidos mortalmente, se desfazendo enquanto Mercator crescia na frente dos sombras, que puseram as garras à mostra.
Abrindo as bocarras atacaram. O urro se perdeu nas montanhas, como um eco do vento, que morria como aquele sombra que o emitira.
Ao se voltar para o outro viu que ele já se perdia na distancia.
- Que voltem ao início da fila, que comecem novamente a terrível e dolorosa caminhada – falou Mercator. – Sombras em inten??o se tornam novamente, para depois serem apenas fuligem numa caverna, para ent?o, depois de eons, se recobrirem de uma forma. Talvez, algum dia, se tornem novamente dem?nios - sentenciou.
Com lentid?o, tentando se lembrar de algo, voltou a sentar-se no mesmo lugar onde estivera antes dos sicários de Trevas e Escurid?o o terem interrompido. Suspirou, deixando a mente livre para se lembrar.
Como se fosse uma pista voltou os olhos para o ch?o à sua esquerda. Vendo o solo branco de neve vasculhou com cuidado toda a volta, mas viu que nada havia ali.
- O que prendia minha aten??o? – ficou cismando, a mente se perdendo ao longe.
Esta parece ser a primeira referência a Tmermish, o mais poderoso dos thermidash, que aparece no livro ra?a divina 3, o que poderia indicar que Tmermish e Mercator possuíam alguma rela??o, muito depois esclarecido que essa rela??o era com Yossah, herdeiro de Tmermish.